terça-feira, 11 de setembro de 2012

Análise : Watchmen (HQ)


Como seria o mundo, se realmente existissem super heróis ? Bem, todos devem estar pensando que isso já tentou ser explicado muitas vezes, já que há muitas histórias de diversos heróis por aí. Mas nenhuma possui a profundidade, e o mundo retratado tão bem nessa realidade como Watchmen.





Para podermos falar sobre Watchmen, a HQ, primeiro precisamos falar sobre seu autor, um dos grandes ícones do meio das HQs : Alan Moore.

"Alan Moore"
Alan Oswald Moore (18 de Novembro, 1953) é um escritor inglês, que produziu diversas HQs de muito sucesso, como : Watchmen, V for Vendetta (V de Vingança) e From Hell.  Ele ocasionalmente também usa pseudônimos : Curt Ville, Jill de Ray e Translucia Baboon.

Moore começou desenhando tirinhas para as revistas "2000 AD" e "Warrior", e depois ele foi contratado para trabalhar na "DC Comics". Na DC ele trabalhou em grandes nomes, como Batman (Batman: The Killing Joke) e Superman (Whatever Happened to the Man of Tomorrow). Apesar de trabalhar independentemente por um tempo, produzindo até um trabalho experimental pornográfico ("Lost Girls") e voltar logo para a indústria "Mainstream", Moore atualmente está novamente trabalhando por si.

Sua personalidade é bem curiosa, já que Moore se autodeclarou Neopaganista, Ocultista, Anarquista, e um Mago Cerimonial (Baseado na Qabalah Hermética). Podemos notar algumas referências destas opções pessoais em alguns de seus trabalhos, tendo como exemplo, o Anarquismo em "V for Vendetta" (V de Vingança).


Depois de uma pequena introdução sobre o autor, podemos falar mais sobre a obra em si, Watchmen. O nome da mesma já diz muito, já que Watchmen seria "Os homens que observam", ou os "Vigilantes".

Falando primeiro sobre os temas mais técnicos, a HQ é extremamente complexa, e com brilhantes construções visuais, assim como ligações e inter-relações presentes durante toda a obra.

O simestrismo assim como o traço é consistente, e durante todas as edições não muda nem um pouco, e o ambiente externo, como a cidade ou os cenários em que o roteiro se desenvolve são muito bem desenhados e detalhistas, com certos aspectos que talvez só relendo algumas vezes para serem perceptíveis.

Em todas as capas da edições vemos um relógio caminhando lentamente para a meia-noite, que é uma referência ao Relógio Atômico (Relógio do Juízo Final), onde a meia-noite simbolicamente se refere à uma destruição nuclear. Desde 1947 o relógio é atrasado ou adiantado, e durante a Guerra Fria teve seu momento mais próximo da hora zero.

Watchmen - "Relógio do Juízo Final"

Sobre o enredo, é aí que a história ganha seu verdadeiro valor. Com amarras excelentes, somos apresentados à uma realidade em que existem vigilantes, que lutam pela "Paz" em que eles acreditam. Todos eles são humanos normais, com habilidades marciais, ou estrategistas; até que Jonathan Osterman sofre um acidente que o torna capaz de controlar toda a matéria. Então, ele se torna Dr. Manhattan.

Nessa realidade alternativa, com a ajuda de Manhattan e dos Watchmen, os USA saem vitoriosos da Guerra do Vietnã, e novas tecnologias são desenvolvidas, como carros elétrico altamente rentáveis, e novas pesquisas acerca de biogenética e geração de energia. Como outro resultado, Nixon ainda é o presidente.

Uma nova geração de Watchmens assume o posto deixado pelos outros, e é com eles que temos o maior foco da série, sendo : Edward Black - "O Comediante", Dr John Osterman - "Dr. Manhattan", Daniel Dreiberg - "O Coruja", Adrian Veidt - "Ozymandias", Joseph Kovacs - "Rorschach" e Laurie Juspeczyk - "Silk Spectre".


Porém, conforme o sucesso dos "Vigilantes" aumenta, a retaliação popular também. A população começa a questionar com a famosa frase : "Who watches the watchmen?", questão proposta primeiramente em Latim ( "Quis custodiet ipsos custodes?" ), que teria como uma tradução mais adequada : "Quem vigia os vigilantes ?"

Então, consequentemente, os mascarados são banidos, e cada um toma um rumo diferente.

Conforme o enredo se desenvolve, temos vários flashbacks, que denotam as relações interpessoais dos "heróis", assim como seus medos, tristezas e sentimentos. Também conhecemos a geração antiga dos "Vigilantes" e tudo sobre o grupo, além dos rancores que perduraram pelos anos.

A linha principal de história, é a de que alguém está tentando assassinar os mascarados, e Rorschach está investigando e indo atrás dos antigos companheiros. Também paralelamente conhecemos sobre a vida de todos os ex-integrantes, em principal a relação de Laurie com sua mãe, a antiga Silk Spectre, a origem das opiniões de Rorschach sobre os homens, e o desapego crescente de John Osterman com a própria espécie e seus questionamentos.

"Adrian Veidt"
A trama é extremamente bem elaborada, e o final excepcional, com metáforas sobre o mundo em si, a sociedade, e a natureza inata do ser humano. Temos várias perspectivas, de vários personagens, como Rorschach que possui uma moral incorrupta, e que crê que a sociedade está degenerada; a de Blake ("O Comediante"), que aceita a natureza humana, mas apesar de tratar tudo como uma grande piada, joga a dura realidade na cara daqueles que sonham estar mudando o mundo; e muitas outros pontos que na verdade representam as divergentes opiniões pessoais de cada um no meio social.

É possível mudar o mundo sem sacrifícios ? As poucas boas ações que realizamos são apenas para ego pessoal ? Prender um bandido, é a mesma coisa que retirar uma gota de água de um grandioso oceano ? Essas perguntas percorrem a série toda, e Alan Moore trata de todas muito bem e profundamente.

"Contos do Cargueiro Negro"
Por final, podemos tratar um pouco sobre o enredo paralelo presente, que usando de metalinguagem, conta a história sobre uma HQ que um dos personagens coadjuvantes lê durante a série, que é sobre "O Cargueiro Negro".

Contando sobre um capitão que sofre um ataque de um cargueiro fantasmagórico, e perde toda sua tripulação, conseguimos notar uma subrelação com o enredo principal, e principalmente com o rumo que a história acaba tomando. O capitão acaba parando em uma ilha deserta, e com o corpo de seus próprios homens e amigos, constrói um barco, para velejar em direção à sua vila, e salvar sua mulher e filha.

O homem passa a delirar cada vez mais com a abominante realidade de que suas entes queridas já poderiam ter sido brutalmente assassinadas, e quando chega finalmente em sua vila, temos um desfecho surpreendente do que aconteceu, e o que circunda sua própria personalidade.

Conforme tudo tem seu desfecho, tanto paralelamente no "Cargueiro Negro" como na realidade de Watchmen, percebemos a profundidade das questões tratadas, e com certeza alguma reflexão sobre o meio social toma conta de nossa mente.

NOTA FINAL : 10/10


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